t.A.T.u. está de volta: dupla dos anos 2000 anuncia retorno aos palcos após anos de polêmicas

Quem viveu os anos 2000 sabe: bastavam os primeiros segundos de “All the Things She Said” para a provocação começar. Uniforme escolar, beijo na chuva, e uma narrativa de rebeldia homoafetiva que explodiu globalmente. Agora, t.A.T.u. está de volta. Yulia Volkova e Lena Katina anunciaram que vão se reunir para um novo show, marcado para 16 de julho em Yalta, na Crimeia.


Mas o revival não vem sem uma longa bagagem — e muitas camadas a serem revisitadas.

Uma jogada de marketing disfarçada de revolução queer

A explosão de t.A.T.u. não foi só musical. Foi midiática, ousada e, como se descobriria mais tarde, construída sobre uma grande mentira. O projeto de duas adolescentes russas apaixonadas uma pela outra foi arquitetado por produtores com o objetivo claro: causar, chocar, vender.

E funcionou. Elas viraram ícones da comunidade LGBTQIA+ ao redor do mundo — mas sem nunca terem sido um casal de verdade. Anos depois, foi a própria Lena quem abriu o jogo e revelou que tudo fazia parte de um plano comercial.


Depois do fim, polêmicas e contradições

A dupla se separou oficialmente em 2009, após seis álbuns e três turnês internacionais. Lena e Yulia seguiram caminhos diferentes — e nem sempre pacíficos.

Yulia, que enfrentou um câncer na tireoide e quase perdeu a voz, acabou se envolvendo em uma polêmica pesada ao declarar, em uma entrevista na TV russa, que não aceitaria ter um filho gay. Suas falas geraram indignação especialmente por partirem de alguém que lucrou em cima da imagem de um “romance lésbico”.

“Sim, eu o condenaria, porque um homem de verdade deve ser um homem de verdade”, disse na época.
Lena rebateu publicamente: “Todo mundo é livre para amar quem quiser”.

Desde então, as duas só se reuniram brevemente em 2022 para um festival na Rússia, selando uma trégua profissional.


O que esperar do comeback?

Com o retorno aos palcos, a pergunta que paira no ar é: t.A.T.u. vai abraçar o legado polêmico que construiu — ou tentar reescrevê-lo?

O revival não é só nostálgico. Ele vem num momento em que discursos performáticos em cima da pauta LGBTQIA+ são observados com lupa. Não basta mais parecer inclusivo: é preciso ser inclusivo. A dupla vai conseguir navegar nesse novo cenário?

t.A.T.u. ajudou a abrir espaço para conversas que não estavam acontecendo nos anos 2000 — mas fez isso com uma narrativa montada para vender choque e sexualidade, não para representar. O comeback pode ser um momento de redenção — ou só mais uma turnê caça-níquel disfarçada de nostalgia.

A gente vai assistir? Provavelmente. Mas também vamos cobrar coerência.