Depois de anos de espera, a Marvel liberou o primeiro trailer oficial de Coração de Ferro, nova minissérie do MCU estrelada por Dominique Thorne no papel de Riri Williams — a jovem prodígio tecnológica que conhecemos em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre. Mas o que era pra ser uma estreia empolgante está virando mais um caso frustrante de onda de críticas negativas orquestradas, algo que infelizmente tem se tornado rotina para produções protagonizadas por personagens não-brancos.
O teaser original em inglês já ultrapassou os 7 milhões de views, mas acumula mais de 317 mil reações negativas no YouTube, número que supera os likes e revela uma rejeição em massa. E, como tem se tornado cada vez mais evidente, boa parte dessa reação não tem nada a ver com qualidade do conteúdo — e tudo a ver com racismo velado e resistência a protagonistas que desafiam o padrão branco, masculino e “nostálgico” que ainda domina parte do fandom.
O problema, porém, vai além da toxicidade online. A falta de preparação e confiança da própria Marvel também pesa. A série foi anunciada em 2020, mas desde então Riri Williams teve uma presença mínima no MCU. Três anos se passaram entre sua estreia e o trailer solo, que chegou pouco mais de um mês antes da estreia oficial. Isso passa a sensação de que o estúdio está tratando o projeto como algo menor, sem o investimento narrativo ou de marketing que outros heróis recebem. Quando uma série protagonizada por uma mulher negra é jogada para o público sem alicerce, a impressão que fica é: ou não havia plano nenhum, ou o plano foi engavetado até onde deu.

Ainda assim, Coração de Ferro tem alguns trunfos importantes. O projeto é produzido por Ryan Coogler, mente por trás de Pantera Negra, e tem a showrunner Chinaka Hodge, conhecida por seu trabalho com inovação cultural. O roteiro promete explorar o embate entre tecnologia e magia, com a presença do vilão The Hood (Anthony Ramos), um personagem movido por desejo de poder e vingança. A série se distancia de Tony Stark de forma intencional — Riri é uma aluna do MIT que monta sua própria armadura com peças descartadas, numa jornada bem diferente da do bilionário playboy filantropo.
O elenco ainda conta com Lyric Ross, Alden Ehrenreich, Manny Montana e Regan Aliyah, entre outros nomes promissores. E enquanto a heroína ainda não tem cadeira garantida em Vingadores: Doomsday, rumores fortes apontam Riri em Guerras Secretas e até em Marvel Zombies, onde Dominique Thorne dará voz à personagem.
A onda de críticas negativas contra Coração de Ferro é só a ponta do iceberg. O problema real é uma indústria que ainda lança suas protagonistas negras sem blindagem, sem estrutura narrativa sólida e com marketing quase ausente. A Marvel precisa entender que representatividade não é só colocar alguém diferente na frente da câmera. É construir, sustentar e proteger essa escolha. Riri Williams tem tudo para brilhar, mas o estúdio precisa tratá-la como protagonista — não como peça de reposição. E o público precisa começar a entender: novo não é sinônimo de substituto.