Sete episódios. Foi isso que a HBO precisou para mostrar que a segunda temporada de The Last of Us não está aqui para agradar plateia passiva — e nem para seguir o jogo como um guia religioso. A reta final, marcada para este domingo (25), promete ser intensa, mas uma coisa já está clara: o que Craig Mazin e Neil Druckmann estão construindo vai muito além da adaptação.
Com mudanças narrativas ousadas, foco emocional mais aprofundado e uma coragem rara de desacelerar no meio do caos, a série acerta ao mostrar que sabe onde pisa — mesmo quando muda o caminho.
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Menos episódios, mais impacto
Sim, a temporada foi curta. Sete capítulos, contra nove da anterior. Mas também é verdade: pouca coisa na TV este ano teve o peso emocional e narrativo que The Last of Us entregou em tão pouco tempo.
Craig Mazin explicou que a escolha de não esticar demais a história tem a ver com a bomba narrativa que é a morte de Joel — um evento tão central que qualquer tentativa de desviar ou respirar fundo no meio corre o risco de diluir o impacto.

E mesmo com o roteiro optando por caminhos paralelos (olá, Abby!), a tensão nunca dispersou. Pelo contrário: o vazio deixado por Joel só ampliou o silêncio desconfortável e a violência emocional dos episódios seguintes.
Mudanças corajosas — e funcionais
Ao contrário do que parte do fandom mais barulhento esperava, a série não tem medo de mudar o jogo. Literalmente. A decisão de colocar Ellie e Dina partindo para Seattle por conta própria — sem o Tommy como catalisador da vingança — foi uma das alterações mais impactantes. No jogo, Ellie reage quase no automático. Na série, ela fica três meses parada, em luto, se consumindo. A dor não vem só da perda, mas da espera. Da impotência.
E surpreendentemente quase ninguém reclamou. Prova de que, quando a mudança tem fundamento narrativo, o público entende.
Outro risco assumido foi o desenvolvimento mais lento e torto do romance entre Ellie e Dina. No jogo, o casal já está mais estabelecido. Na série, elas ainda estão se entendendo. “Você é gay. Eu não sou.” Essa fala causou estranhamento. Mas Mazin sabia o que estava fazendo: plantou tensão para colher intensidade depois.

A TV tem o que o jogo não tem: tempo
Druckmann já disse isso antes, e Mazin reforçou em entrevista ao Collider: o game precisa priorizar gameplay. A série, não. Ela pode deixar as coisas cozinharem no fogo baixo.
Isso se reflete em cada cena que pausa para mostrar os silêncios de Ellie, a raiva de Abby, os conflitos internos que não cabem no apertar de um botão. A série não precisa de cutscenes — ela é a cutscene.
E essa liberdade narrativa abre espaço para o inesperado. O famoso episódio do Bill e do Frank, lá na primeira temporada, seria impossível em um joystick. E embora a Season 2 tenha sido mais “reta”, a promessa é que a terceira vá retomar essa liberdade de respirar. O plano, segundo Mazin, é terminar tudo só na quarta.
O que esperar da terceira temporada?
Mais episódios. Mais espaço. Mais Abby. Mais consequências.
A Temporada 3, prevista para 2026, deve expandir os arcos que agora estão apenas germinando. Mazin deu a entender que o ritmo será diferente e que a história pedirá mais tempo — o que faz sentido.

E, como ele mesmo disse, não dá para “encerrar tudo” na próxima. Ou seja: o drama está longe do fim. E ainda vai doer.
The Last of Us – Temporada 2 pode ter decepcionado quem queria mais ação, mais zumbis ou mais fidelidade ao jogo. Mas quem entendeu que a série está mais interessada em pessoas do que em monstros, viu uma temporada poderosa, triste e refinada.
Se a primeira temporada mostrou como sobreviver ao fim do mundo, a segunda mostra como sobreviver ao que sobra depois dele.