Nem mesmo a Nintendo, tradicionalmente vista como a “diferentona” da indústria dos games, conseguiu passar ilesa pela sombra da inteligência artificial generativa. O estopim? Algumas imagens exibidas durante uma transmissão do aguardado Mario Kart World, no evento de revelação do Switch 2, levantaram suspeitas de que a Big N estaria usando IA para criar elementos visuais do jogo. O que antes era paranoia de fórum virou discussão pública, com direito a negativa oficial da empresa, que garantiu: “Nenhuma imagem gerada por IA foi usada no desenvolvimento de Mario Kart World.”
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A defesa é direta — e, vinda da Nintendo, até esperada. Afinal, a empresa vem mantendo um discurso contrário ao uso de IA há um tempo. Shigeru Miyamoto, o lendário criador de Mario, já afirmou que a Nintendo prefere seguir seu próprio caminho, inclusive quando isso significa não aderir a modismos tecnológicos. E mesmo o presidente Shuntaro Furukawa já reconheceu que a IA pode representar conflitos de direitos autorais e éticos.
Mas aí entra o problema: o público já não acredita tão fácil assim.
Os elementos que chamaram atenção — como cartazes com imagens distorcidas, linhas que não fazem sentido e perspectivas bizarras — têm, sim, a cara de arte gerada por IA. Não é impossível que tudo seja apenas obra de design humano um pouco apressado ou “placeholders” que seriam refinados antes do lançamento. Mas o fato de essas imagens soarem automaticamente suspeitas diz muito sobre o estado atual da indústria de games.

A verdade é que o uso desenfreado e irresponsável de IA por outras empresas abriu um precedente tóxico. Os jogadores estão com um pé atrás com tudo, e com razão. A IA não só ameaça empregos e a criatividade real dos artistas, como também virou um atalho perigoso para grandes estúdios que preferem cortar custos em vez de investir em qualidade.
Mesmo que a Nintendo esteja falando a verdade — e tudo indica que está — a empresa agora enfrenta um novo tipo de desafio: manter a confiança num mercado onde transparência virou moeda rara. O simples fato de essa polêmica ter surgido já acende um alerta vermelho.
Se até uma empresa conhecida por seguir seu próprio ritmo e valorizar o toque artesanal de seus jogos está sendo colocada na berlinda, imagina o resto da indústria. E isso diz muito mais sobre o clima de desconfiança generalizada do que sobre os pixels borrados de um cartaz.
Em 2025, as empresas precisam se posicionar de forma ativa e ética sobre IA — e isso inclui deixar claro por que estão optando por não usá-la. Transparência não pode ser opcional. O silêncio confortável de muitos estúdios só fortalece a desconfiança. E a Nintendo, mesmo sendo tradicionalmente mais reservada, faria bem em transformar essa negativa pontual num posicionamento firme e contínuo. Porque, goste ou não, a era da dúvida chegou, e os jogadores estão mais atentos do que nunca.