Linn da Quebrada fala sobre internação e volta aos palcos: ‘Se eu estivesse na Cracolândia, não mereceria amor?’

Depois de um período delicado longe dos holofotes, Linn da Quebrada está de volta. A artista, que passou por uma internação para tratar a depressão e o uso abusivo de substâncias, se apresentou no último fim de semana no Sesc 14 Bis, em São Paulo, marcando sua volta aos palcos e à cena artística.

Em entrevista ao Fantástico neste domingo (11), Linn falou abertamente sobre o vício, a internação e o vídeo que circulou nas redes sociais, onde ela supostamente aparecia na região da Cracolândia. A cantora e atriz não se esquivou do assunto:

“Nem é perto da Cracolândia, na verdade. (A internação) é um passo que já era previsto. A internet torna tudo uma réplica sem fim. Parece que eu estava na rua milhões de vezes num lugar que eu não estou.”

Mas o que mais chamou atenção foi o questionamento potente que ela levantou em rede nacional:

“Sim, eu estava em situação de vulnerabilidade e estava em situação de uso abusivo de substâncias. E por isso eu pergunto: Qual é o problema daquele vídeo? Se eu tivesse na Cracolândia, eu não mereceria mais amor?”

Essa fala virou o coração da entrevista. É mais do que uma resposta aos ataques: é um chamado por empatia, algo cada vez mais raro em tempos de julgamento instantâneo nas redes.

Durante a conversa, Linn também falou sobre o filme “Vitória”, no qual atua ao lado de Fernanda Montenegro. A atriz veterana, inclusive, enviou uma mensagem de apoio durante o período de internação, o que Linn descreveu como um verdadeiro “chamado para acordar”.

“Se hoje eu decido ficar e permanecer em casa, sóbria, lúcida, limpa, é por amor,” disse ela, deixando claro que o processo de cura é contínuo — e consciente.

A volta de Linn da Quebrada não é só sobre carreira — é sobre sobrevivência. E num país que ainda marginaliza e silencia pessoas trans, negras e periféricas, sua fala no Fantástico foi um ato de resistência. Dizer “eu mereço amor” em voz alta é político. E se isso incomoda alguém, talvez o problema nunca tenha sido a Cracolândia — e sim a nossa falta de compaixão.